segunda-feira, 13 de outubro de 2008

A caixinha das campanhas

DIAS, Maurício. A mentira das Urnas. Rio de Janeiro: Record, 2004.

Resenha do Capítulo V (pág. 115 a 142)


Continuando a contar fatos curiosos e pitorescos para ilustrar o processo eleitoral brasileiro, o autor relata neste capítulo as 6 “caixinhas” eleitorais mais famosas da história, até a eleição de 2002.
Dólares na eleição da “guerra fria” – relata a formação do Instituto Brasileiro Democrático e sua atuação junto ao Departamento de Estado Norte Americano, grandes empresários como David Rockefeller e a CIA, na formação de um fundo para intervir nas eleições de 1962.
A caixinha americana de US$ 5 milhões foi confirmada pelo ex-embaixador americano em entrevista anos depois, ao repórter Geneton Moraes Neto.
A caixinha de Ademar – O primeiro a assumir o rótulo de político que “rouba mais faz”, lema que até hoje alguns políticos tem orgulho de carregar e que grande parte dos eleitores aceita, a caixinha do político paulista Ademar de Barros ficou famosa após sua morte por um roubo espetacular.
Em julho de 1969, militantes da Var-Palmares aproveitando-se de informações de um de seus militantes, que era sobrinho da antiga secretária de Ademar, roubaram um cofre que segundo informações nunca confirmadas continha US$ 2,5 milhões.
O telhado de vidro de JK – esta pode ser considerada a primeira caixinha moderna de nossa política. A caixinha de JK traz algumas características que se mantém até nossos dias. Foi fortemente financiada pelas empreiteiras, destinou boa parte de seus recursos para viagens em aviões particulares e o uso da televisão. Durante a campanha, Juscelino apareceu mais de 100 vezes na televisão.
A caixinha de JK foi inflada por vários setores do empresariado nacional que viram em sua candidatura a real possibilidade de alavancar seus negócios. JK recebeu recursos não declarados de empreiteiras, bancos, latifundiários, dos Diários Associados entre outros. Seu ministro da Fazenda, Pais de Almeida era controlador da Companhia Comercial de Vidros Planos que ganhou muito dinheiro com a construção de Brasília.
Boi indiano financia o presidencialismo – João Goulart que teve que engolir o parlamentarismo imposto pelos militares para assumir a presidência após renuncia de Jânio, utilizou um esquema que comparado com o de outros políticos, beira o simplório.
Membros do governo de Jango procuraram o empresário Tião Maia, dono do maior frigorífico do país para coordenar o esquema de compra e venda de bois. Como havia uma grande epidemia de bócio no rebanho indiano e Maia sabia onde comprar gado sadio, a proposta era simples: comprar na baixa e vender na alta.
Os bois sadios permaneceram engordando em navios no litoral de Santos, durante a quarentena decretada pelo governo. A venda foi feita com grande lucro e a campanha em favor do presidencialismo recebeu generosa doação.
O “Clube do Bilhão” de Trancredo Neves – No Brasil até eleições indiretas precisam de financiamento de caixa 2. Coordenado pelo empresário Mario Garnero, o “Clube do Bilhão” foi composto para enfrentar o caixa 2 de Paulo Maluf coordenado pelo ex-ministro da Fazenda Delfin Neto.
Um esquema também simples: contatavam-se grandes empresários com interesses no governo e vendiam-se “cotas” sem recibo. Fato curioso é que ao final da campanha eleitoral, com a debandada de aliados de Maluf, o clube serviu para “convencer” aos últimos simpatizantes de Tancredo a não aderirem a sua campanha para dar mais legitimidade à eleição.
PC paga o pato – a mais famosa caixinha de campanha veio à tona com o racha no grupo que foi chamado de “República de Alagoas”. Este grupo foi formado no inicio da campanha de Fernando Collor para angariar fundos para elegê-lo presidente. Por problemas internos e familiares, Fernando foi denunciado por seu irmão Pedro.
A fim de justificar gastos não compatíveis com seus rendimentos, Fernando utilizou o argumento que estes gastos eram financiados com sobras de campanha. O tiro saiu pela culatra. Como não tinha apoio popular, sua base no Congresso sumiu, sendo instalada uma CPI em que o principal personagem foi seu tesoureiro de campanha, Paulo César Farias, o PC. Esta CPI comprovou a utilização de caixa 2 financiado pelas grandes empreiteiras e Bancos. Em seu depoimento, PC com uma franqueza até então não vista, chamou todos os políticos de hipócritas, pois todos usam ou já utilizaram recursos de caixa 2.


Candidato sugere “comissãozinha”
Jornal O Globo
24/09/2008
Autor: Bernardo Melo Franco


O prefeito licenciado da cidade de Chapecó (SC), João Rodrigues, afilhado político do Senador Jorge Bornhausen (DEM – SC), que concorre a reeleição, protagonizou cenas que parecem saídas de programas humorísticos
As cenas podem ser vistas no site You Tube e esquentaram de vez a campanha política na cidade.
O candidato do PT, ex ministro da pesca José Fritsh levou as cenas ao ar em seu horário político.
Primeiro mostrou uma reunião onde João Rodrigues ensina ao seu ex companheiro de chapa, atual prefeito em exercício, como super faturar a compra de um caminhão para o programa “ Central de Resgate Social”:
“- Para tirar uma comissãozinha é claro, um caminhãozinho que custa assim R$ 10 milhão (sic) a gente compra por 30.”
Depois mostra o ex prefeito às gargalhadas anunciando um programa para dar “atendimento e carinho” aos mendigos da cidade. Promete encaminhá-los para “seu destino final”. Aponta o céu e faz o sinal da cruz.
Faz gestos obscenos no canteiro de obras onde anuncia a construção de um distrito industrial. Debocha de um conhecido bordão de sua campanha:
“-Já fiz, sei fazer e não sei se vou fazer” – arremata aconselhando: “- Cada um que se vire. Cada um se vira como pode.”
O candidato irritou-se com a apresentação das imagens, entrou com representação junto ao TRE que as retirou do ar.
Rodrigues já foi multado pelo mesmo TRE ao chamar os índios, no ar, de “ ladrões, safados e vadios”.

Análise crítica da matéria baseada no livro

O que há em comum em um capítulo relacionado à caixa de campanha eleitoral, com uma matéria que mostra como se corrompe uma autoridade, forjando comissão?
Tudo, pois a matéria deixa ver entre linha que o valor que se consegue com super faturamento, está intimamente relacionado ao custo de uma campanha. É preciso reforçar o caixa da campanha e o pessoal, já que política virou profissão.
O que mais preocupa, é que se o candidato não fosse da oposição e sim do mesmo partido, provavelmente estas imagens e denúncias não teriam chegado a público.
Mais uma vez fica claro que não há interesse em beneficiar o povo, dono do voto, mas sim grupos ou partidos políticos.
Quem fiscaliza, o TRE, se omite e retira do ar imagens que deveriam ser encaminhadas ao MPF para abertura de inquérito e investigação, já que o fato mostrado é de suma importância para esclarecimento da população
Infelizmente para história política do nosso país o Candidato João Rodrigues, foi eleito com 59,52% dos votos válidos no município (conforme dados obtidos no site http://www.tse.gov.br).

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